domingo, 5 de junho de 2011

Cultura acadêmica X Reality show








A palavra cultura é latina e sua origem é do verbo colo. Colo significava, na língua romana mais antiga, “eu cultivo solo”. A palavra agricultura diz muito: “cultura do campo”.
Sandra Jovchelovitch faz uma analogia entre as etapas do cultivo de um terreno e a formação da cultura humana, dizendo que, “a boa cultura exige que se limpem as inteligências de todos os erros e falsas opiniões que comprometem tudo o que nelas venha a ser plantado. É preciso "arar" nossas inteligências, habituando-as a pensar. Pois apenas estudar não significa adquirir cultura: há analfabetos mais "cultos" do que muitos eruditos. “
Como podemos perceber, cultura em nada tem a ver com inteligência ou estudo. De uma forma ou de outra, todos nós carregamos conosco algum tipo de herança cultural, mesmo que seja pela passagem de ideias, valores ou conhecimentos de geração para geração.

Entre as formas existentes de cultura, hoje, falaremos sobre cultura erudita e cultura de massa, que a princípio, são duas coisas completamente distintas, mas como veremos, podem acabar se misturando de alguma forma.

A cultura erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional. Esta cultura acadêmica, que é o saber efetivamente transmitido pelas universidades,
exige estudo e pesquisa para se obter o conhecimento, não sendo assim acessível à todos e, portanto não é amplamente conhecida e reconhecida pela maior parte da população.
São transmitidos a partir desta cultura, ensinamentos como, Filisofia, Literatura, Geografia, Matemática, Física, Química, entre tantos outros.

Já a cultura de massa, como o próprio nome diz, é uma cultura massificante, criada com o objetivo específico de atingir a massa popular, sem pretensões de ensinar alguma coisa ou passar algum tipo de conhecimento.
O Papa Pio XII já dizia sobre a “massa”, “Um grupo de indivíduos que não se move, mas que são movidos por paixões. A massa é sempre passiva. Ela não age racionalmente e por sua conta, mas se alimenta de entusiasmos e ideias estáveis. É sempre escrava das influências instáveis da maioria, das modas e dos caprichos...”.
Com isso, podemos perceber que a alienação e o desinteresse por qualquer tipo de aprendizado é uma marca dessa massa consumidora, que busca apenas o divertimento como objetivo final.

Entretanto, podemos comprovar a interação desses dois distintos meios de produção cultural, usando o exemplo do Programa de reality show Big Brother, que é reconhecidamente um produto da cultura de massa e, indiscutivelmente, um forte representante da indústria cultural. A maior prova disso, é o recorde de 160 milhões de votos, na grande final do Big Brother Brasil deste ano - de acordo com a Rede Globo.

Se pararmos para analisar, iremos constatar que o grande fenômeno popular, o reallity show mais famoso do mundo, Big Brother, teve sua ideia retirada de uma obra literária que não é considera como cultura de massa, o livro 1984 de George Orwell (1903/1950).
Orwell foi um grande escritor e jornalista inglês e teve sua obra marcada por profunda consciência das injustiças sociais e intensa oposição ao totalitarismo.
Este livro é fruto de um grande conhecimento político e linguístico, onde o autor baseia sua obra na crítica do conceito da constante vigilância e controle exercidos pelo governo.

Este conceito de vigilância permantente de que o programa Big Brother se utiliza, foi inspirado no livro de Orwell, de onde inclusive foi tirado o nome “Big Brother”, sendo o nome do personagem fictício do livro, que monitorava os habitantes do País 24 horas por dia, através das “teletelas”, que no programa de TV se transformou nas câmeras de vídeo.

No livro em questão, quando os cidadãos do país fictício faziam algo que fosse considerado fora das normas do governo, eles eram presos e torturados. No Big Brother, os participantes também são monitorados e julgados, 24 horas por dia e se fazem algo de que os telespectadores desaprovem, estes são também eliminados, sem dó nem piedade.

Os reality shows, como o nome diz, são programas baseados na vida real, porém mostram a realidade de forma simulada.
Os participantes não são personagens ficcionais, porém são frequentemente manipulados ou, pelo menos, influenciados por fatores controlados externamente. Apenas suas reações não podem ser controladas, o que acaba dando o ar de realidade à tais programas.

Não coincidentemente, na obra de Orwell ocorre o mesmo, a trama apresenta a figura do Big Brother, que manipula a forma de pensar dos habitantes, punindo qualquer  eventual deslize.




Músicas do vídeo:
1 - A cabra e o bode - Rita Lee (Versão de I want to hold your hand - The Beatles)
2 - Versão em chorinho de I want to hold your hand  - Hamilton de Holanda

Fonte:

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